domingo, 25 de abril de 2010

Roupas feitas com tocos de cigarro reciclados


A designer chilena Alexandra Guerrero tem experimentado algo que pode ser a última coisa que alguém pensaria como material de vestuário: tocos de cigarro. À primeira vista pode parecer que ela só queria manchetes, certo? Mas a coisa mais surpreendente da iniciativa é que as peças resultantes feitas a partir de tocos de cigarros misturados com lã parecem promissores - legal mesmo.
Mas como você transforma esse lixo bruto em produtos têxteis usáveis?
 
Transformando pontas de cigarro sujas em lã

O projeto Mantis começou quando a designer Alexandra Guerrero estava prepararando uma tese de pós-graduação. Sempre consciente da grande quantidade de pontas de cigarro em toda a cidade de Santiago de Chile, ela começou a pensar sobre o que poderia ser feito com elas, e veio com uma maneira de misturar o tecido do filtro com lã natural para criar um fio rústico, que poderia ser de malha em todo o tipo de vestuário.

É claro que colocar pontas de cigarro usado em contato com a pele pode não só ser repulsivo, mas potencialmente perigoso. Então, antes de continuar com seu projeto, Guerrero pediu à engenheira ambiental Carolina Leiva para conduzir um estudo para determinar o quão puro o material seria depois de limpar os tocos de cigarro. O estudo concluiu que os filtros poderiam atingir 95% de purificação, o que, segundo a designer, significa que as pontas limpas são seguras para o uso.

O processo de purificação começa com as pontas de cigarro passando por uma autoclave (aparelhos de esterilização). Em seguida, elas são lavadas em um solvente polar, passam pela autoclave novamente, são lavadas e secas, e, finalmente, fragmentadas para criar um material como a lã. O líquido resultante também está sendo doado para ser testado como um inseticida biológico.




 
Roupas e objetos feitos de tocos de cigarro reciclados

Até agora a designer produziu um colete, um poncho, um vestido e um chapéu, e ainda tem misturado o material dos filtros de cigarros com sabão para fazer um produto esfoliante.
O tecido resultante final contém 20% de material de filtro de cigarro reciclado e Guerrero recuperou 5.000 tocos de cigarro das ruas até o momento.
Isto pode não ser a solução definitiva para o enorme problema do lixo de cigarro (4,3 trilhões de pontas de cigarro são descartadas por ano; elas nunca se degradam totalmente e só começam a se degradar depois de 12 anos, de acordo com a ButtsOut), mas também não é uma má maneira de aumentar a consciência sobre o que pode ser feito de outra maneira com os resíduos.



Fonte: http://www.treehugger.com/files/2009/01/recycled-cigarette-butts-fashion-alexandra-guerrero-mantis.php (por Paula Alvarado, Buenos Aires, em 1° de Junho de 2009)

sábado, 24 de abril de 2010

Um grau a menos

Thassanee Wanick é a fundadora da ONG Green Building Council Brasil (GBC), que está promovendo a campanha One Degree Less (Um Grau a Menos), a qual objetiva reduzir o aquecimento global, baixando a temperatura em 1°C. O caminho para se atingir a meta é pintar os telhados das casas de branco, pois quanto mais claro o telhado, maior será a sua refletividade do raio solar e menor o aquecimento.
Thassanee Wanick afirma que se estima que para cada 100 m² pintados de branco são compensadas 10 toneladas de emissão de CO2 por ano. "Pintei o telhado da minha casa, que tem 333 metros, e é como se tivesse tirado sozinha 33 carros da rua. É algo que todos podem fazer", diz. Abaixo o vídeo da campanha.




Fonte: http://www.ecodesenvolvimento.org.br/noticias/celebridades-brasileiras-estimulam-a-adocao-de

domingo, 18 de abril de 2010

Ecotelhado

Enquanto os ambientalistas buscam alternativas para diminuir os efeitos da poluição e ampliar as áreas verdes nos centros urbanos, uma das soluções sustentáveis pode estar sobre nossas cabeças. O telhado verde ou ecotelhado é uma opção estética que oferece conforto térmico e reduz os impactos ambientais. Tanto é que foi apresentado ano passado um projeto de lei federal no Brasil que estimula a inclusão de coberturas de plantas em cidades com mais de 500 mil habitantes possibilitando a redução da taxa de IPTU. São Paulo também aderiu a medida de estímulo à construção de tetos ecológicos, ao exigir dos novos condomínios com mais de três unidades agrupadas verticalmente a implantação de um telhado verde.

















Outra alternativa que começa a ser adotada nas cidades é o jardim vertical em paredes externas das construções.

















A Instalação é relativamente rápida do ecotelhado, levando em média 3 a 4 dias dependendo do ambiente e da equipe contratada para o serviço.
As vantagens:
- Fácil Manutenção;
- Isolamento Acústico e térmico;
- Resgate de CO2 do meio ambiente através das plantas;
- Manutenção da umidade relativa do ar;
- Graças ao isolamento térmico diminui a necessidade de condicionador / aquecedor de ar;
- Traz mais harmonia ao ambiente;
- Em grandes centros urbanos, é um atrativo que diferencia seu imóvel dos demais.

Neste blog abaixo você encontra alguns videos sobre ecotelhado, que hoje está bem presente na mídia: http://ecotelhado.blog.br/?cat=6

Fontes: http://polegarverde.blogspot.com/2008/06/jardins-urbanos-verticais.html, http://www.ecotelhado.com.br e http://futuroverde.wordpress.com

Life Cycle Assessment (LCA)


O vídeo abaixo, postado pela Steel Case no Youtube, mostra o Ciclo de Vida (LCA - Life Cycle Assessment, na sigla em inglês) de um produto (no vídeo, uma cadeira) e a preocupação que temos que ter com as consequencias que o mesmo traz ao meio ambiente. A Steel Case é uma fábrica de móveis para escritório, que utiliza o LCA na fabricação de seus produtos. Através do LCA ela quantifica a energia e os recursos que serão consumidos durante todas as fases do ciclo de vida de um produto. Posteriormente, determina e pondera os impactos associados para analisar e planejar todas as melhoras possíveis. A metodologia adotada pela Steel Case foi selecionada pela União Européia para a avaliação ambiental e se baseia na norma ISO 14044. Sua finalidade é estabelecer os critérios que se devem adotar durante o processo de desenvolvimento do produto, para conseguir que sejam menos contaminantes.
 

Ecoprodutos


Veja alguns produtos feitos pensando no reaproveitamento e menor quantidade de descarte de materiais no ambiente.

- Embalagem de iogurte, cuja tampa vira colher: a tampa da embalagem do iogurte tranforma-se em colher, o que economiza material e mantém a praticidade (já que você não precisa carregar uma colher). Esta embalagem foi criada por Cho Hye-Seung. Uma película plástica sobre a tampa garante a higiene.


- Caneta 98% reciclável: fabricada pela empresa nova iorquina DBA, a DBA Pen é a primeira caneta feita de materiais 98% recicláveis, o que inclui a sua tinta. O processo de fabricação utiliza apenas energia eólica. Seu corpo é composto por um bio-plástico, o reservatório é feito de fibra biodegradável e a tinta também é natural.
A embalagem também segue a linha eco-friendly, sendo de papel reciclado impresso com tintas de base vegetal.
A caneta parece não ter importância diante da poluição do meio ambiente, mas um vídeo (que você pode ver após o jump) da empresa informa que, desde 1950, foram vendidas mais de 100 bilhões de canetas no mundo, (o que corresponde a 60 delas por segundo sem parar até hoje). A tinta utilizada daria para preencher cem piscinas olímpicas. Tanto o material usado nas canetas  quanto nas tintas é tóxico.


- Colar feito de garrafa pet reciclada

- Piso de bambu (bamboolook): O piso de Bambu da marca BambooLook é importado da China, e, segundo os fabricantes, tem resistência superior à do piso convencional e sua aplicação é bem mais rápida e fácil, além de ser ecologicamente sustentável. As vantagens justificam o preço maior do produto.
Enquanto uma árvore de Ipê, que fornece a madeira para pisos tradicionais, leva 30 anos para atingir a idade de corte, o bambu só precisa de cinco anos. Além disso, é mais resistente, daí a empresa oferecer 15 anos de garantia para o BambooLook.
Além dos pisos para áreas internas, há os pisos para o exterior, como decks, e também painéis para paredes.

- Carro elétrico da Nano: O Tata Nano é 100% elétrico, equipado com baterias de lítio ionizado, pode andar até 60 km sem carregar a bateria, e alcança a velocidade de 60 km/h em 10 segundos. O design dele é moderno e bem simpático. Além disso, é o carro elétrico mais barato do mundo, ao preço de US$ 2 mil (fora impostos).


- Water Pebble: é um pequeno aparelho que lhe ajuda a economizar água. Basta colocá-lo perto do ralo da banheira/chuveiro e ele emite luzes indicando se você gastou muita água, quase muita ou se você usou pouca, preservando este valioso recurso natural.
Criação de Paul Priestman, da consultoria de design Priestmangoode, o Water Pebble mede e lembra a quantidade de água consumida durante o primeiro uso.
Durante os banhos subsequentes, o aparelho usa uma série de LEDs para indicar o volume de água sendo consumida em relação ao primeiro uso. A cada banho, o aparelho alerta antes, encorajando a pessoa a tomar duchas mais curtas e economizando água.

  
Fonte: http://www.criadesignblog.pop.com.br/

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Puma e Yves Béhar passam três anos projetando nova caixa de sapatos super ecológica


É difícil imaginar algo tão simples quanto uma caixa de sapatos passando por uma transformação total. Mas a Puma e a Fuseproject fizeram exatamente isso, e o resultado foi um projeto que vai transformar completamente a cadeia de ditribuição da marca -- economizando milhões em eletricidade, combustível e água.
"Repensar a caixa de sapatos é um problema incrivelmente complexo. O custo do papelão e das sobras de impressão são enormes, dado que 80M são enviados da China a cada ano", disse Béhar ao FastCompany.com. "Compartimentos de carga nos navios podem chegar a temperaturas de  até 43 graus durante semanas seguidas, por isso que as embalagens são um enorme problema. Esta solução protege o calçado e ajuda as lojas a estocá-los, enquanto economiza valores altíssimos em materiais".

Depois de passar 21 meses estudando fabricação e transporte de caixas, a Fuseproject se deu conta que qualquer melhoria feita ao antigo sistema seria meramente incremental. Por isso que, em vez de incrementar a caixa, a "clever little bag" (caixinha esperta, em português) combina os dois elementos do pacote de qualquer venda de calçado -- a caixa e a sacola -- com genialidade tecnológica.
A sacola em si mantém presa uma estrutura de papelão -- que, diferente de uma caixa, apenas dá a forma, reduzindo o uso de papelão em 65%. Além disso, sem aquele exterior brilhante da caixa, não há papelão laminado (o que interfere na reciclagem). Não há papel-manteiga dentro. E não há uma sacola plástica que você vai jogar fora. A sacola em si é feita de PET reciclado.
O impacto: a Puma estima que a nova caixa/sacola irá cortar consumo de água, energia e combustível em 60% só na fabricação -- em um ano, isso resulta em economia de 8.500 toneladas de papel, 20 milhões de mega joules de eletricidade, 264.000 galões de combustível e 264 galões de água. A dispensa das sacolas plásticas vai salvar 275 toneladas de plástico, e o peso reduzido vai economizar outros 132.000 galões de diesel no transporte.
A implementação disso está planejada para o ano que vem. Depois disso é só esperar que o design se torne o padrão.

Fonte:http://www.gizmodo.com.br/conteudo/puma-e-yves-behar-passam-tres-anos-projetando-nova-caixa-de-sapatos-super-ecologica

domingo, 11 de abril de 2010

O que há de errado com esses produtos?

Este é mais um vídeo da Ecoinnovators, o qual pergunta "O que há de errado com esses produtos?", e a seguir mostra produtos utilizados no nosso dia-a-dia, como ferro de passar, celular, maquiagem, etc. Em seguida pergunta ao espectador se ele usa esses produtos, dando-lhe em seguida uma dica, de que todos eles perdem algo e que 80% do impacto ambiental de um produto é decidido pelo designer, e finaliza dizendo que todos os produtos precisam de Ecodesign.

Por que nós precisamos do Ecodesign?

A Ecoinnovators é uma companhia australiana (de Melbourne) baseada na criação do Ecodesign, focada na sustentabilidade de todas as coisas desenhadas, produzidas e consumidas. Essa é a pergunta feita e respondida no vídeo abaixo, postado em Julho de 2009 no Youtube. O vídeo mostra imagens do mundo atual, com os vários resíduos jogados fora por nós. As razões apontadas para o Ecodesign fazer parte de nossas vidas é que há 6,7 bilhões de pessoas na Terra, sendo que há somente uma Terra para nos sustentar; 20% das pessoas do mundo consome 80% dos recursos disponíveis; o consumo de plástico aumentou de 5 milhões de toneladas na década de 1950 para 100 milhões de toneladas atualmente; há 800 milhões de carros no mundo hoje, e espera-se que este número aumente para 3,5 bilhões, em 2050; em 2050 o Reino Unido consumiu 234,3 milhões de toneladas de óleo; porque um mundo globalizado significa problemas globalizados; a cada ano 50 milhões de toneladas de lixo eletrônico é criado, que é mais do que o lixo produzido na China; a cada ano o Reino Unido produz cerca de 330 milhões de toneladas de lixo, e somente 7% é reciclado. O vídeo finaliza dizendo que o Ecodesign ajuda a juntar peças complexas para criar um futuro sustentável.

ECOPRODUTOS

O Instituto Supereco, em parceria com a empresa Suzano Papel e Celulose, organiza dois grupos de produção artesanal, os quais reutilizam matérias-primas na sua produção. O Grupo Frutos do Futuro produz duas linhas de produtos feitas com retalhos de tecido, utilizando a costura como técnica principal: os brinquedos educativos - com a finalidade de resgatar os brinquedos populares; e uma linha  que inclui itens diversos criados a partir do fruto do eucalipto: aventais, sacolas, broches, tapetes e porta-lixo para carro.


A Associação Arte Helvécia produz variados ecoprodutos a partir de um processo de criação que une a cultura local e técnicas do tricô e crochê, utilizando arame e resíduos reaproveitados: os cavacos de madeira e sementes encontradas na região. A linha de produtos do grupo inclui itens diversos como cachepot, centro de mesa, fruteira, revisteiro, vasos, porta cartão, porta guardanapo e porta retrato.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

II Concurso de Desenho Talentos Design

A Fundação Banco Santander, em colaboração com o Universia, está organizando o II Concurso de Desenho Talentos Design. O tema deste ano é o design sustentável e qualquer estudante de Universidade, Centro ou Escola de Ensino Superior, maior de 18 anos, pode participar. A proposta é a criação de arte sustentável, em cinco categorias: Espaços e Interiores; Industrial ou Produtos; Gráfico; Moda e Têxtil; e Digital.
O site www.talentosdesign.com contém mais informações sobre o concurso.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Vídeo Institucional MIHO

Este é um vídeo institucional da MIHO, um escritório de design, que atua nas áreas de gráfico, produto e moda. A MIHO utiliza o conceito de design consciente para desenvolver os seus produtos e serviços, utilizando matérias-primas sustentáveis. Ao produzi-los, a MIHO opta por materiais reciclados, orgânicos, residuais e reutilizados.
O vídeo mescla imagens atuais do consumo exagerado e dos produtos criados pela MIHO.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O design como caminho para a sustentabilidade


O jornalista e filósofo John Thackara acredita que o design pode encurtar o caminho que leva à sustentabilidade, em todas as instâncias. Seu livro - In the Bubble: Designing in a Complex World - acaba de ser lançado no Brasil e, em novembro, ele certamente virá ao país para participar de um congresso

Planeta Sustentável – 16/02/2009

John Thackara nasceu na Inglaterra, mas sua experiência é de quem já morou em dez cidades pelo mundo. Filósofo e jornalista de formação, especializado em arquitetura e design, Thackara trabalhou para grandes veículos da imprensa britânica, como o jornal The Guardian e a rede BBC.

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Das pautas jornalísticas passou para a academia, onde assumiu cargos importantes no Royal College of Art, em Londres, e depois no Netherlands Design Institute, de Amsterdã. Daí em diante, unindo seu faro jornalístico ao conhecimento acumulado na pesquisa acadêmica e no mercado, Thackara tornou-se membro de conselhos de diversos projetos e entidades pelo mundo, proferiu palestras e organizou conferências, que tratam de um tema em comum: como o design pode encurtar o caminho rumo à sustentabilidade.

Para registrar seu precioso conhecimento na área, escreveu ainda um livro, intitulado “In the Bubble – Designing in a Complex World”, editado originalmente pelo MIT Press, em 2005. Lançado no Brasil recentemente, numa parceria entre o selo Virgília e a Editora Saraiva, sob o título “Plano B – O Design e as Alternativas Viáveis em um Mundo Complexo”, o livro é uma leitura indicada para designers e não-designers, e principalmente, para quem quer descobrir que a sustentabilidade mora ao lado: “Milhares de experiências em design já estão sendo realizadas”, adianta Thackara, em entrevista exclusiva ao Planeta Sustentável.

O seu livro tem um novo título no Brasil: “Plano B” é uma expressão que significa uma “maneira alternativa de se agir”. A sustentabilidade chegará ao mainstream e será, finalmente, transformada num “Plano A”?
Não é uma questão de “será”, mas sim de “já é”. Maneiras alternativas de se organizar a vida cotidiana, que são sustentáveis em diferentes níveis, vêm sendo desenvolvidas em todo o mundo. No mundo de língua inglesa, por exemplo, há o site Wiser Earth, que reúne milhares de projetos em que pessoas e grupos estão ativamente mudando algum aspecto da vida cotidiana, na prática. Esse site é inspirador, porque mostra que muita coisa está sendo feita. Paul Hawken (escritor e ambientalista norte-americano, fundador do Natural Capital Institute, organização à frente do Wiser Earth) diz que esses projetos, quando reunidos, transformam-se no maior movimento ao redor do planeta. Esse movimento é invisível no mainstream, na mídia e na política, porque muitas dessas ações são pequenas, locais e entre pessoas comuns, mas é, contudo, real. E está crescendo numa velocidade incrível.

A edição brasileira também traz três novos capítulos: “Alimento”, “Desenvolvimento” e “Presença”. Por que você escolheu esses temas?
Quando líderes comunitários e homens de negócios de trinta cidades se reuniram em Nova York, em 2007, para o Large Cities Climate Summit (Encontro Climático de Grandes Cidades), o sistema de abastecimento de alimentos não fazia parte da pauta de discussões. Os representantes discutiram congestionamento, energia, água, construções, negócios, tráfego urbano e dejetos – mas não alimentação. A omissão foi notável: mais de 40% das pegadas ecológicas de uma cidade moderna podem ser rastreadas até os sistemas de abastecimento de alimentos – transporte, embalagem, armazenamento, preparação e descarte das coisas que comemos. Os sistemas de abastecimento de alimentos no mundo estão se transformando em práticas insustentáveis, em relação a impactos ambientais, à saúde e à qualidade social.

Os sistemas de abastecimento de alimentos são, portanto, uma importante parte dos programas para fazer com que centros urbanos sejam mais sustentáveis. O desafio do design é unir diferentes recursos e oportunidades. A ecologia de uma cidade é complexa, e um nível altíssimo de coordenação é necessário entre prestadores de serviço, consumidores e produtores. A agricultura urbana, nesse sentido, tem mais relação com o design de serviços e infraestrutura, do que com artefatos isolados. Novos serviços e infraestrutura serão necessários para sustentar cooperativas de alimentos, cozinhas e refeitórios coletivos, hortas comunitárias e outras melhorias nos sistemas de alimentação comunitários.

A ironia é de que o modelo predatório da alimentação industrializada está pressionando os países em desenvolvimento, em nome do progresso. A pressão financeira nos países emergentes é imensa. Em um mercado ocidental, para cada dez dólares que você ou eu gastamos, apenas 60 centavos vão para os agricultores. Os 9,40 dólares restantes – o “valor agregado” – correspondem à rotação de estoque e ao lucro das indústrias envolvidas. Compare isso aos mercados formais na Índia (também conhecidos como varejo organizado), eles contabilizam apenas 3% dos 300 bilhões de dólares do setor varejista de produtos alimentícios. A maior parte da venda de alimentos é ainda realizada por lojas informais, vendedores de beira de estrada e feiras a céu aberto.

Um relatório elaborado pela consultoria americana McKinsey para o governo indiano difundiu a ideia de que a Índia é a “fábrica de alimentos do mundo”. A empresa promoveu o par de conceitos “eficiência” e “inovação” como a base para a contribuição indiana no mercado global de 640 bilhões de dólares da indústria de alimentos. “Produtos a custos extremamente baratos... é nesse ponto que o centro do consumo indiano estará”. Os prováveis custos à qualidade ambiental, social e à saúde pública não foram mencionados pelo estudo da McKinsey.

E estou também preocupado com a expressão “mitigação da pobreza”. Essas palavras (assim como “Desenvolvimento”) significam, para mim pelo menos, que as pessoas desenvolvidas do Norte estão submetidas a alguma espécie de obrigação em ajudar as pessoas desamparadas do Sul a se erguer, lançando mão de suas próprias condições privilegiadas.

Hummm... A pobreza é um desafio real suficiente para mais da metade da população mundial – mas, em muitos casos, ela é ocasionada por modelos exportados, e impostos, pelo Norte. E precisamos admitir que, ao redor do mundo, os mais brutais excessos do desenvolvimento são incentivados, cada vez mais, por visões de design. Estou assombrado pelas palavras da especialista inglesa em desenvolvimento Maggie Black: “Milhões de pessoas são expelidas para as margens de uma experiência frutífera em nome do progresso de outras”.

O novo capítulo sobre “Presença” foi motivado pela minha necessidade pessoal de viajar menos! Não é mais aceitável voar em torno do mundo dando palestras sobre sustentabilidade, quando o custo de carbono da minha mobilidade é tão alto! De maneira geral, a ideia de viajar sem se mover faz sentido do ponto de vista ambiental. Matéria é mais custosa do que energia, energia custa mais do que informação; é mais barato transportar informação do que pessoas e coisas. Então, a promessa dos sistemas de comunicação de simulação de presença é a de nos fazer movimentar menos e nos telecomunicarmos mais. Por que ir pessoalmente, quando podemos telefonar?

O problema com esses novos sistemas é que, apesar de cinco décadas de esforço, a promessa da presença virtual introduzia solenemente pelo videofone, alardeado pela IBM na feira mundial de Nova York, em 1964, ainda não se realizou. Enormes investimentos em ambientes virtuais, comunicação móvel e biossensores geraram resultados - na melhor das hipóteses - modestos. A telepresença não amadureceu para se transformar num serviço, muito menos em um mercado. Mesmo seus defensores não se impressionam: o diretor da divisão de videoconferência de uma grande empresa britânica de telecomunicações me disse que ele e seus colegas evitam o próprio sistema sempre que podem.

Mas eu, pessoalmente, não tenho mais escolha. Eu tenho que me movimentar menos. Por mais empobrecedora que possa ser a experiência permitida pelas tecnologias de comunicação, nós precisamos fazê-la funcionar. Então, meu capítulo é um desafio proposto a artistas e designers para criar significativas e estéticas combinações de visão, audição e tato no mundo virtual.

“In the bubble” (“Na bolha”), título original de seu livro, é uma expressão utilizada por controladores de tráfico aéreo para descrever seu estado de espírito, diante de telas brilhantes e fluxos de informação, quando estão controlando dados. Qual deve ser o papel do designer, ao tentar assumir o controle, repensar e recriar a nossa sociedade?
Minha primeira resposta é que devemos nos concentrar no pequeno, em discretas ações de design e não tentar redesenhar tudo, de uma vez só. Nós estamos começando a entender os princípios envolvidos nos sistemas complexos. Redesenhar a vida cotidiana deve ser uma atividade contínua, e não esporádica.

Nós precisamos nos concentrar em como as coisas funcionam, mais do que (apenas) em como elas se parecem. Essa é uma mudança fundamental na relação entre pessoas que projetam coisas e pessoas que as usam. Senso e reação significam reagir a eventos num contexto – como uma cidade ou região – e ser capaz de responder rapidamente e apropriadamente quando a realidade muda. Essa abordagem sugere desenvolvermos uma compreensão e uma sensibilidade em relação à morfologia dos sistemas, sua dinâmica, sua “inteligência” – e como trabalhar e estimulá-los. Isso significa que devemos pensar em design mais como um guia, do que como um modelador de formas.

Você escreveu que nós precisamos passar de uma inovação baseada na ficção científica (futurística, incapaz de ser realizada), para uma inovação social. Você conhece alguma experiência brasileira em inovação social?
Meu conhecimento pessoal sobre o Brasil é limitado a algumas visitas curtas ao país. Mas eu tenho ouvido falar sobre projetos incríveis, que me parecem ser centrais em relação ao que precisamos fazer nos próximos anos. Por exemplo, novas maneiras de recuperar resíduos serão fundamentais – maneiras de reutilização e reciclagem de materiais que ainda estão disponíveis.

Eu tenho trabalhado com um estúdio de arquitetos franceses chamado Exyzt, cujo novo projeto, intitulado Momento Monumento, está no Brasil junto com o estúdio Coloco. A ideia do projeto Monumento é explorar os vários passos práticos necessários para reprojetar um arranha-céu de 24 andares em São Paulo (a iniciativa faz parte do Ano da França no Brasil). Haverá, em breve, prédios vazios como esse em todo o mundo, então esse tipo de experiência é extremamente apropriada.

Numa linha parecida, há o conceito da Bricolabs, que também surgiu no Brasil, que são redes distribuídas para o desenvolvimento global e local das chamadas “infraestruturas genéricas”, criadas por comunidades. Como a civilização industrial, da forma que nós conhecemos hoje, está em declínio, precisaremos usar plataformas como a Bricolabs para manter as redes de comunicação. A Bricolabs é uma plataforma global para investigar conteúdos, softwares e hardwares abertos, para uso comunitário, um modelo que reúne pessoas a novas tecnologias e conectividade distribuída – postura muito diferente do foco da indústria de Tecnologia da Informação (TI), que está baseada em sistemas fechados, copyright, segurança, vigilância e monopólio da informação e da infraestrutura.

Você afirma que nós construímos uma sociedade baseada na tecnologia, que ser inovador é “adicionar tecnologia”. Diz, ainda, que precisamos mudar as pautas das discussões, de maneira que as pessoas venham antes de recursos tecnológicos. Tecnologia não pode resolver todos os problemas, mas ela possui um papel importante ao possibilitar soluções de design. Como a tecnologia pode ser utilizada para se construir uma sociedade sustentável?
Aha, outra pequena pergunta! A resposta mais simples é pensar a tecnologia como um recurso para se atingir um fim (uma sociedade sustentável), e não com um meio com fim em si mesmo. Eu inventei a “Lei Thackara“ para resumir minha ideia: se você coloca inteligência num produto sem sentido, o resultado será um produto idiota. A sustentabilidade fornece o fim que precisamos para guiar a inovação.

Projetos de design sustentável são baseados em novos princípios (acima de tudo, leveza), que informam a maneira como são projetados, fabricados, utilizados e procurados. O foco do design sustentável está nos serviços e sistemas, não em artefatos. Você também afirma que novas ideias de design estão sendo realizadas e testadas agora mesmo (e algumas delas são descritas no seu livro). Como o design pode fortalecer essas iniciativas?
Uma das mais importantes tarefas do design é aumentar e melhorar as ferramentas que nós precisamos para compartilhar recursos. Muitas dessas ferramentas já existem, mas são difíceis de serem utilizadas ou são desnecessariamente não-atraentes: eu estou falando de uma variedade de ferramentas para diferentes finalidades, desde sistemas locais de troca e moedas complementares a car pooling (caronas organizadas) e compartilhamento de terras. Eu escrevi mais detalhadamente sobre “ferramentas para compartilhamento” (clique aqui para ler).

É possível projetar soluções pequenas, simples e locais num mundo tão complexo?
Como eu afirmei anteriormente, milhares de experiências em design já estão sendo realizadas, mesmo que as pessoas envolvidas não pensem nelas mesmas como designers. A lição de design proposta é esta: nós precisamos olhar em outros lugares para buscar inspiração e cultivar o hábito de procurar pessoas, locais, organizações, projetos e ideias que não aparecem na tela do radar usada pelos nossos capitães, que estão em cima da ponte de comando.

Designers são desnecessariamente pressionados pelo mito de que tudo que eles fazem deve ser único e criativo. Mais do que projetar do zero, nós deveríamos procurar de maneira ampla por soluções já realizadas e testadas, e criadas por outras pessoas. Nós precisamos nos transformar em caçadores-colecionadores de ideias e ferramentas. Como outras sociedades viveram no passado? Como sociedades vivem em outras partes do mundo? Essa pergunta já foi respondida por alguém?

Quando pessoas, ideias e organizações de ponta se reúnem, alguma coisa interessante e valiosa sempre acontece. O que consultores de empresas consideram “criação estratégica” – e que eu chamo de “design” – envolve a criação de novas combinações de conhecimento, recursos e habilidade – muitas dos quais já existem.

Várias visões do futuro falam de renúncia, moralismo e limitação pessoal. A sustentabilidade pode ser uma proposta estimulante e envolvente?
Um importante ponto quando desenhamos novas formas de atividade humana é saber distinguir explicitamente o que Ezio Manzini (pesquisador e designer italiano) chama de soluções “desabilitantes” e de “habilitantes” (leia as reportagens O visionário do design sustentável, O design do futuro, e Especialista em design sustentável).

Nós remoemos por muito tempo a ideia de que o mundo está “fora de controle” – nossas cidades, a tecnologia ou a bioesfera. Nós estamos preenchendo o mundo com tecnologias e sistemas complexos que são realmente difíceis de serem entendidos, formatados ou redirecionados. Projetos que ajudam cidadãos a retomar o controle sobre aspectos essenciais da vida cotidiana são, pela sua própria natureza, estimulantes e geram quantidades enormes de energia positiva.

Por favor, fale sobre seu projeto City Eco Lab. É uma cidade do presente ou do futuro?
É uma cidade – ou melhor, uma cidade-região – do presente. Com certeza! A ideia do City Eco Lab é procurar, e apresentar num espaço, os melhores projetos de uma região, que são exemplos de novas formas de organização da vida cotidiana. No caso do City Eco Lab de Saint Étienne (cidade francesa que sediu a Bienal Internacional de Design, em 2008), por exemplo, o evento incluiu iniciativas como permacultura, redes de comércio alternativo, bancos de sementes, esgoto urbano sustentável, propostas para “desmotorização”.

Nós organizamos, também, discussões sobre novos modelos econômicos, moedas complementares, esquemas de comércio para economias locais, redes alternativas de comércio e agricultura comunitária. Como um modelo que pode ser replicado, o City Eco Lab é uma coletânea local – um “mercado nômade de iniciativas” – para pessoas comuns e projetos. Quando reunidos, esses exemplos de inovação na vida cotidiana oferecem uma poderosa visão do que uma região sustentável pode ser.

Como eu já disse, há vários projetos como esses aí fora – mas eles não aparecem no radar da grande imprensa e da política. Esses projetos também tendem a ser isolados uns dos outros – então eles se ressentem da energia que surge quando são reunidos e do aprendizado mútuo. O objetivo do City Eco Lab é ajudar esses projetos de pessoas comuns e comunidades a atingirem uma massa e um momento críticos.

Os elementos-chave de um City Eco Lab são:
- um anfitrião: idealmente, um consórcio regional de organizações pro bono; um comitê organizador de cidadãos e grupos comunitários;
- um parceiro na mídia;
- um local: de preferência, uma grande área de fácil acesso, como um galpão ou um estádio;
- uma época adequada ao ritmo da região;
- uma central de notícias, que filtre e cruze as estórias dos projetos;
- um produtor para reunir todos esses elementos e
- um patrocinador: para pagar a produção.

Você tem planos para visitar o Brasil? Há novos projetos em vista?
Provavelmente, irei a São Paulo em novembro, para participar de uma conferência sobre design e sustentabilidade. Eu quero ajudar as pessoas a organizar mais eventos na linha do City Eco Lab: é um modelo valioso para acelerar o movimento de mudança que já começou. Em qualquer City Eco Lab, é importante que ele seja realizado por quem é da própria região. O papel do Doors of Perception (rede e conferência dirigida por John Thackara desde 1993) é de ser um produtor low-profile, que ajuda as pessoas a iniciarem um projeto, orienta sobre a estrutura necessária e conecta grupos de uma região com os de outras.

Leia também:
Redesenhando o mundo
Plano B - o design e as alternativas viáveis em um mundo complexo
John Thackara nasceu na Inglaterra, mas sua experiência é de quem já morou em dez cidades pelo mundo. Filósofo e jornalista de formação, especializado em arquitetura e design, Thackara trabalhou para grandes veículos da imprensa britânica, como o jornal The Guardian e a rede BBC. Das pautas jornalísticas passou para a academia, onde assumiu cargos importantes no Royal College of Art, em Londres, e depois no Netherlands Design Institute, de Amsterdã. Daí em diante, unindo seu faro jornalístico ao conhecimento acumulado na pesquisa acadêmica e no mercado, Thackara tornou-se membro de conselhos de diversos projetos e entidades pelo mundo, proferiu palestras e organizou conferências, que tratam de um tema em comum: como o design pode encurtar o caminho rumo à sustentabilidade.
Para registrar seu precioso conhecimento na área, escreveu ainda um livro, intitulado “In the Bubble – Designing in a Complex World”, editado originalmente pelo MIT Press, em 2005. Lançado no Brasil recentemente, numa parceria entre o selo Virgília e a Editora Saraiva, sob o título “Plano B – O Design e as Alternativas Viáveis em um Mundo Complexo”, o livro é uma leitura indicada para designers e não-designers, e principalmente, para quem quer descobrir que a sustentabilidade mora ao lado: “Milhares de experiências em design já estão sendo realizadas”, adianta Thackara, em entrevista exclusiva ao Planeta Sustentável.

O seu livro tem um novo título no Brasil: “Plano B” é uma expressão que significa uma “maneira alternativa de se agir”. A sustentabilidade chegará ao mainstream e será, finalmente, transformada num “Plano A”?

Não é uma questão de “será”, mas sim de “já é”. Maneiras alternativas de se organizar a vida cotidiana, que são sustentáveis em diferentes níveis, vêm sendo desenvolvidas em todo o mundo. No mundo de língua inglesa, por exemplo, há o site Wiser Earth, que reúne milhares de projetos em que pessoas e grupos estão ativamente mudando algum aspecto da vida cotidiana, na prática. Esse site é inspirador, porque mostra que muita coisa está sendo feita. Paul Hawken (escritor e ambientalista norte-americano, fundador do Natural Capital Institute, organização à frente do Wiser Earth) diz que esses projetos, quando reunidos, transformam-se no maior movimento ao redor do planeta. Esse movimento é invisível no mainstream, na mídia e na política, porque muitas dessas ações são pequenas, locais e entre pessoas comuns, mas é, contudo, real. E está crescendo numa velocidade incrível.

A edição brasileira também traz três novos capítulos: “Alimento”, “Desenvolvimento” e “Presença”. Por que você escolheu esses temas?

Quando líderes comunitários e homens de negócios de trinta cidades se reuniram em Nova York, em 2007, para o Large Cities Climate Summit (Encontro Climático de Grandes Cidades), o sistema de abastecimento de alimentos não fazia parte da pauta de discussões. Os representantes discutiram congestionamento, energia, água, construções, negócios, tráfego urbano e dejetos – mas não alimentação. A omissão foi notável: mais de 40% das pegadas ecológicas de uma cidade moderna podem ser rastreadas até os sistemas de abastecimento de alimentos – transporte, embalagem, armazenamento, preparação e descarte das coisas que comemos. Os sistemas de abastecimento de alimentos no mundo estão se transformando em práticas insustentáveis, em relação a impactos ambientais, à saúde e à qualidade social.
Os sistemas de abastecimento de alimentos são, portanto, uma importante parte dos programas para fazer com que centros urbanos sejam mais sustentáveis. O desafio do design é unir diferentes recursos e oportunidades. A ecologia de uma cidade é complexa, e um nível altíssimo de coordenação é necessário entre prestadores de serviço, consumidores e produtores. A agricultura urbana, nesse sentido, tem mais relação com o design de serviços e infraestrutura, do que com artefatos isolados. Novos serviços e infraestrutura serão necessários para sustentar cooperativas de alimentos, cozinhas e refeitórios coletivos, hortas comunitárias e outras melhorias nos sistemas de alimentação comunitários.
A ironia é de que o modelo predatório da alimentação industrializada está pressionando os países em desenvolvimento, em nome do progresso. A pressão financeira nos países emergentes é imensa. Em um mercado ocidental, para cada dez dólares que você ou eu gastamos, apenas 60 centavos vão para os agricultores. Os 9,40 dólares restantes – o “valor agregado” – correspondem à rotação de estoque e ao lucro das indústrias envolvidas. Compare isso aos mercados formais na Índia (também conhecidos como varejo organizado), eles contabilizam apenas 3% dos 300 bilhões de dólares do setor varejista de produtos alimentícios. A maior parte da venda de alimentos é ainda realizada por lojas informais, vendedores de beira de estrada e feiras a céu aberto.
Um relatório elaborado pela consultoria americana McKinsey para o governo indiano difundiu a ideia de que a Índia é a “fábrica de alimentos do mundo”. A empresa promoveu o par de conceitos “eficiência” e “inovação” como a base para a contribuição indiana no mercado global de 640 bilhões de dólares da indústria de alimentos. “Produtos a custos extremamente baratos... é nesse ponto que o centro do consumo indiano estará”. Os prováveis custos à qualidade ambiental, social e à saúde pública não foram mencionados pelo estudo da McKinsey.
E estou também preocupado com a expressão “mitigação da pobreza”. Essas palavras (assim como “Desenvolvimento”) significam, para mim pelo menos, que as pessoas desenvolvidas do Norte estão submetidas a alguma espécie de obrigação em ajudar as pessoas desamparadas do Sul a se erguer, lançando mão de suas próprias condições privilegiadas.
Hummm... A pobreza é um desafio real suficiente para mais da metade da população mundial – mas, em muitos casos, ela é ocasionada por modelos exportados, e impostos, pelo Norte. E precisamos admitir que, ao redor do mundo, os mais brutais excessos do desenvolvimento são incentivados, cada vez mais, por visões de design. Estou assombrado pelas palavras da especialista inglesa em desenvolvimento Maggie Black: “Milhões de pessoas são expelidas para as margens de uma experiência frutífera em nome do progresso de outras”.
O novo capítulo sobre “Presença” foi motivado pela minha necessidade pessoal de viajar menos! Não é mais aceitável voar em torno do mundo dando palestras sobre sustentabilidade, quando o custo de carbono da minha mobilidade é tão alto! De maneira geral, a ideia de viajar sem se mover faz sentido do ponto de vista ambiental. Matéria é mais custosa do que energia, energia custa mais do que informação; é mais barato transportar informação do que pessoas e coisas. Então, a promessa dos sistemas de comunicação de simulação de presença é a de nos fazer movimentar menos e nos telecomunicarmos mais. Por que ir pessoalmente, quando podemos telefonar?
O problema com esses novos sistemas é que, apesar de cinco décadas de esforço, a promessa da presença virtual introduzia solenemente pelo videofone, alardeado pela IBM na feira mundial de Nova York, em 1964, ainda não se realizou. Enormes investimentos em ambientes virtuais, comunicação móvel e biossensores geraram resultados - na melhor das hipóteses - modestos. A telepresença não amadureceu para se transformar num serviço, muito menos em um mercado. Mesmo seus defensores não se impressionam: o diretor da divisão de videoconferência de uma grande empresa britânica de telecomunicações me disse que ele e seus colegas evitam o próprio sistema sempre que podem.
Mas eu, pessoalmente, não tenho mais escolha. Eu tenho que me movimentar menos. Por mais empobrecedora que possa ser a experiência permitida pelas tecnologias de comunicação, nós precisamos fazê-la funcionar. Então, meu capítulo é um desafio proposto a artistas e designers para criar significativas e estéticas combinações de visão, audição e tato no mundo virtual.

“In the bubble” (“Na bolha”), título original de seu livro, é uma expressão utilizada por controladores de tráfico aéreo para descrever seu estado de espírito, diante de telas brilhantes e fluxos de informação, quando estão controlando dados. Qual deve ser o papel do designer, ao tentar assumir o controle, repensar e recriar a nossa sociedade?

Minha primeira resposta é que devemos nos concentrar no pequeno, em discretas ações de design e não tentar redesenhar tudo, de uma vez só. Nós estamos começando a entender os princípios envolvidos nos sistemas complexos. Redesenhar a vida cotidiana deve ser uma atividade contínua, e não esporádica.
Nós precisamos nos concentrar em como as coisas funcionam, mais do que (apenas) em como elas se parecem. Essa é uma mudança fundamental na relação entre pessoas que projetam coisas e pessoas que as usam. Senso e reação significam reagir a eventos num contexto – como uma cidade ou região – e ser capaz de responder rapidamente e apropriadamente quando a realidade muda. Essa abordagem sugere desenvolvermos uma compreensão e uma sensibilidade em relação à morfologia dos sistemas, sua dinâmica, sua “inteligência” – e como trabalhar e estimulá-los. Isso significa que devemos pensar em design mais como um guia, do que como um modelador de formas.

Você escreveu que nós precisamos passar de uma inovação baseada na ficção científica (futurística, incapaz de ser realizada), para uma inovação social. Você conhece alguma experiência brasileira em inovação social?

Meu conhecimento pessoal sobre o Brasil é limitado a algumas visitas curtas ao país. Mas eu tenho ouvido falar sobre projetos incríveis, que me parecem ser centrais em relação ao que precisamos fazer nos próximos anos. Por exemplo, novas maneiras de recuperar resíduos serão fundamentais – maneiras de reutilização e reciclagem de materiais que ainda estão disponíveis.
Eu tenho trabalhado com um estúdio de arquitetos franceses chamado Exyzt, cujo novo projeto, intitulado Momento Monumento, está no Brasil junto com o estúdio Coloco. A ideia do projeto Monumento é explorar os vários passos práticos necessários para reprojetar um arranha-céu de 24 andares em São Paulo (a iniciativa faz parte do Ano da França no Brasil). Haverá, em breve, prédios vazios como esse em todo o mundo, então esse tipo de experiência é extremamente apropriada.
Numa linha parecida, há o conceito da Bricolabs, que também surgiu no Brasil, que são redes distribuídas para o desenvolvimento global e local das chamadas “infraestruturas genéricas”, criadas por comunidades. Como a civilização industrial, da forma que nós conhecemos hoje, está em declínio, precisaremos usar plataformas como a Bricolabs para manter as redes de comunicação. A Bricolabs é uma plataforma global para investigar conteúdos, softwares e hardwares abertos, para uso comunitário, um modelo que reúne pessoas a novas tecnologias e conectividade distribuída – postura muito diferente do foco da indústria de Tecnologia da Informação (TI), que está baseada em sistemas fechados, copyright, segurança, vigilância e monopólio da informação e da infraestrutura.

Você afirma que nós construímos uma sociedade baseada na tecnologia, que ser inovador é “adicionar tecnologia”. Diz, ainda, que precisamos mudar as pautas das discussões, de maneira que as pessoas venham antes de recursos tecnológicos. Tecnologia não pode resolver todos os problemas, mas ela possui um papel importante ao possibilitar soluções de design. Como a tecnologia pode ser utilizada para se construir uma sociedade sustentável?

Aha, outra pequena pergunta! A resposta mais simples é pensar a tecnologia como um recurso para se atingir um fim (uma sociedade sustentável), e não com um meio com fim em si mesmo. Eu inventei a “Lei Thackara“ para resumir minha ideia: se você coloca inteligência num produto sem sentido, o resultado será um produto idiota. A sustentabilidade fornece o fim que precisamos para guiar a inovação.

Projetos de design sustentável são baseados em novos princípios (acima de tudo, leveza), que informam a maneira como são projetados, fabricados, utilizados e procurados. O foco do design sustentável está nos serviços e sistemas, não em artefatos. Você também afirma que novas ideias de design estão sendo realizadas e testadas agora mesmo (e algumas delas são descritas no seu livro). Como o design pode fortalecer essas iniciativas?

Uma das mais importantes tarefas do design é aumentar e melhorar as ferramentas que nós precisamos para compartilhar recursos. Muitas dessas ferramentas já existem, mas são difíceis de serem utilizadas ou são desnecessariamente não-atraentes: eu estou falando de uma variedade de ferramentas para diferentes finalidades, desde sistemas locais de troca e moedas complementares a car pooling (caronas organizadas) e compartilhamento de terras. Eu escrevi mais detalhadamente sobre “ferramentas para compartilhamento” (clique aqui para ler).

É possível projetar soluções pequenas, simples e locais num mundo tão complexo?

Como eu afirmei anteriormente, milhares de experiências em design já estão sendo realizadas, mesmo que as pessoas envolvidas não pensem nelas mesmas como designers. A lição de design proposta é esta: nós precisamos olhar em outros lugares para buscar inspiração e cultivar o hábito de procurar pessoas, locais, organizações, projetos e ideias que não aparecem na tela do radar usada pelos nossos capitães, que estão em cima da ponte de comando.
Designers são desnecessariamente pressionados pelo mito de que tudo que eles fazem deve ser único e criativo. Mais do que projetar do zero, nós deveríamos procurar de maneira ampla por soluções já realizadas e testadas, e criadas por outras pessoas. Nós precisamos nos transformar em caçadores-colecionadores de ideias e ferramentas. Como outras sociedades viveram no passado? Como sociedades vivem em outras partes do mundo? Essa pergunta já foi respondida por alguém?
Quando pessoas, ideias e organizações de ponta se reúnem, alguma coisa interessante e valiosa sempre acontece. O que consultores de empresas consideram “criação estratégica” – e que eu chamo de “design” – envolve a criação de novas combinações de conhecimento, recursos e habilidade – muitas dos quais já existem.

Várias visões do futuro falam de renúncia, moralismo e limitação pessoal. A sustentabilidade pode ser uma proposta estimulante e envolvente?

Um importante ponto quando desenhamos novas formas de atividade humana é saber distinguir explicitamente o que Ezio Manzini (pesquisador e designer italiano) chama de soluções “desabilitantes” e de “habilitantes” (leia as reportagens O visionário do design sustentável, O design do futuro, e Especialista em design sustentável).
Nós remoemos por muito tempo a ideia de que o mundo está “fora de controle” – nossas cidades, a tecnologia ou a bioesfera. Nós estamos preenchendo o mundo com tecnologias e sistemas complexos que são realmente difíceis de serem entendidos, formatados ou redirecionados. Projetos que ajudam cidadãos a retomar o controle sobre aspectos essenciais da vida cotidiana são, pela sua própria natureza, estimulantes e geram quantidades enormes de energia positiva.

Por favor, fale sobre seu projeto City Eco Lab. É uma cidade do presente ou do futuro?

É uma cidade – ou melhor, uma cidade-região – do presente. Com certeza! A ideia do City Eco Lab é procurar, e apresentar num espaço, os melhores projetos de uma região, que são exemplos de novas formas de organização da vida cotidiana. No caso do City Eco Lab de Saint Étienne (cidade francesa que sediu a Bienal Internacional de Design, em 2008), por exemplo, o evento incluiu iniciativas como permacultura, redes de comércio alternativo, bancos de sementes, esgoto urbano sustentável, propostas para “desmotorização”.
Nós organizamos, também, discussões sobre novos modelos econômicos, moedas complementares, esquemas de comércio para economias locais, redes alternativas de comércio e agricultura comunitária. Como um modelo que pode ser replicado, o City Eco Lab é uma coletânea local – um “mercado nômade de iniciativas” – para pessoas comuns e projetos. Quando reunidos, esses exemplos de inovação na vida cotidiana oferecem uma poderosa visão do que uma região sustentável pode ser.
Como eu já disse, há vários projetos como esses aí fora – mas eles não aparecem no radar da grande imprensa e da política. Esses projetos também tendem a ser isolados uns dos outros – então eles se ressentem da energia que surge quando são reunidos e do aprendizado mútuo. O objetivo do City Eco Lab é ajudar esses projetos de pessoas comuns e comunidades a atingirem uma massa e um momento críticos.

Os elementos-chave de um City Eco Lab são:

- um anfitrião: idealmente, um consórcio regional de organizações pro bono; um comitê organizador de cidadãos e grupos comunitários;
- um parceiro na mídia;
- um local: de preferência, uma grande área de fácil acesso, como um galpão ou um estádio;
- uma época adequada ao ritmo da região;
- uma central de notícias, que filtre e cruze as estórias dos projetos;
- um produtor para reunir todos esses elementos; e
- um patrocinador: para pagar a produção.

Você tem planos para visitar o Brasil? Há novos projetos em vista?

Provavelmente, irei a São Paulo em novembro, para participar de uma conferência sobre design e sustentabilidade. Eu quero ajudar as pessoas a organizar mais eventos na linha do City Eco Lab: é um modelo valioso para acelerar o movimento de mudança que já começou. Em qualquer City Eco Lab, é importante que ele seja realizado por quem é da própria região. O papel do
Doors of Perception (rede e conferência dirigida por John Thackara desde 1993) é de ser um produtor low-profile, que ajuda as pessoas a iniciarem um projeto, orienta sobre a estrutura necessária e conecta grupos de uma região com os de outras.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/cultura/conteudo_421527.shtml?func=2